quarta-feira, 1 de março de 2017

Sejamos filhos, antes de sermos pais

Aquela frase célebre "você só vai saber o que é isso, quando for mãe!" parece algo meio profético, uma praga, um aviso... e é tudo isso junto e misturado.

Ô fase disgramada que é a tal da adolescência! Quando você desafia o tempo todo aqueles que te deram a vida, umas vezes mais, outras vezes menos, umas vezes descaradamente, outras vezes por debaixo dos panos... mas, desafia, testa a paciência até o último limite que o adulto, o pai e a mãe, ou aquele que te cria com todo o amor do mundo, tem para aguentar.

Muitas vezes nessa fase, você deseja ter outra família, outros pais. Alguns extremistas desejam até que os pais morram, por que a mãe da vizinha é "bem mais legal". Acho que é a primeira fase da vida, que a gente começa a achar que a grama do vizinho é mais verde que a nossa...

Me lembro sim, dos arranca-rabos com minha mãe. Por mais que nunca fomos filhos de bater boca, responder, ouvirmos calados as broncas e conselhos, por dentro, praguejava. Nossa Senhora como me lembro de querer fazer aquelas cenas de novela, de sair correndo, deixando a mãe falando sozinha, xingar, gritar, por pra fora aquela raiva que só aumentava com a falação e com o sermão. E que normalmente acabavam com "você vai ser mãe um dia, aí vai ver!"

Tô vendo... com a minha "bostinha" de apenas três anos. Que eu falo "não" e ela aperta os olhinhos e me desafia. Que eu repito mais alto o "NÃO" e ela me pirraça. Que daí eu perco as estribeiras e grito "ANGELINA NÃOOOOOOO" e ela chora como se eu fosse a pior mãe do mundo. E, muitas vezes, é assim que me sinto.

Uma vez, logo quando o pai faleceu e a gente se mudou pra Maringá, fui pra São Paulo ver meus amigos, ir no terreiro, passear. Meio que tava tocando o foda-se! Já perto de ir embora, falei pra minha madrinha Silvana, que não queria ir pra casa, que gostava de São Paulo e de ficar lá com eles. A madrinha me disse "você gosta de ficar aqui, por que é só alegria, passeio, festa. O dia-a-dia você também vai reclamar, também não vai querer ficar". Nunca me esqueci disso. É fácil a gente acostumar com o que é bom, né?

Já falei aqui para vocês o quanto me dói a morte do meu pai, por ele ter sido um PAI maravilhoso, porreta. E o quanto sou fã da minha mãe. O quanto essa essa mulher me inspira, me irrita, me diverte, me ensina e ama, como essa mãe ama seus filhos! Meu Deus! Como pode caber tanto amor assim dentro de 1,63m de altura?!

Só que algo que eu vejo além desse amor de mãe que ela tem, é o amor de filha. A dedicação e o carinho com o qual ela cuida da minha avó. Sim, Dona Cida desempenha muito bem o papel de filha. Muitas vezes, ela chega da casa da vó, cansada, irritada, com dor, por cuidar da mãe dela. Reclama as primeiras horas, mas depois vai passando. Quando volta lá várias vezes para ver como a vó está e vê que aquele cisquinho de gente, está coradinha, já almoçou, já atendeu o povo dela e está bem. Ou então, quando ela volta de lá mega preocupada, com medo da vó adoecer mais, com medo "dessa noite não passar" e ela perder a mãe.

A gente sabe que é o ciclo natural da vida? Sim. A única certeza que temos é que um dia a morte chega. Para alguns após um longo período de espera. Para outros bruscamente. Mas, é algo que lutamos a vida inteira para evitar que aconteça, por mais espiritualizados que possamos ser.

O que quero dizer com tudo isso? Tenhamos mais paciência com nossos pais. Principalmente os idosos. Eles já viveram muito. Já passaram, já viram muitas coisas. Boas e ruins. Estão cansados. Chega uma fase da vida que eles precisam da gente, como a gente já precisou deles várias vezes. 

Ouvi recentemente de uma filha, que tem mãe idosa, que a mãe só vai parar de "dar trabalho" quando morrer. E que "se Deus quiser, isto logo vai acontecer". Remete um pouco à adolescência, né? Quando você queria se livrar dos seus pais...

Por outro lado, ouço tantos adultos falando, que gostaria de ter seus pais aqui ainda. Eu mesma, me pego várias vezes ao dia, sentada olhando pra foto do pai de relance e me perguntando o que ele faria se estivesse aqui? Qual conselho, qual bronca, qual atitude tomaria frente a várias situações...

Enfim... para o adolescente que "perder tempo" para ler este texto, aconselho: respeite seus pais, seu avós ou seja lá quem te cria. Lembre-se que eles já viveram bem mais que você e eles, como qualquer outro ser humano, são suscetíveis aos erros, porém, como no filme "Enrolados", quando a bruxa canta para a Rapunzel, sempre "sua mãeeeeeeee, sabe mais!"

Aos pais de primeira viagem, sim. Sim, vocês vão lembrar da profecia a cada segundo da criação dos seus filhos. Vocês só vão entender este amor louco, que dói, que machuca, que extravasa pelos olhos quando não cabe mais no peito, quando você passar cinco dias indo e vindo de um pronto socorro, para aplicar antibióticos no seu pequeno, por conta de uma infecção. Que você não é culpado. Porém se sente a pior pessoa do mundo, por não estar antes, evitando de alguma forma que ele não venha a passar por isso.

Aos filhos que não tem pais tão bons assim, mas que de alguma forma, tiveram alguém presente em sua vida, te orientando, te criando, te amparando em vários momentos e ainda o faz. Respeite sempre essa pessoa que se preocupou com você. Agradeça por ela não ter te deixado na rua. E, mesmo que não foi a melhor fase da sua vida, quando você se tornar pai/mãe, escreva com os seus filhos, uma história diferente. Seja VOCÊ o melhor sem esperar reparação da parte do outro.

Enfim... não sou fofa. Não sou a melhor filha do mundo e nem de longe uma mãe como a minha é. Tenho uma longa estrada pela frente. Sempre falo, que se eu for pra Arthur a esposa que minha mãe foi pro meu pai, e para os meus filhos, a mãe que minha mãe é, rapaz... todos ganharam na loteria! Conheço todos os defeitos da minha mãe e sinto/vejo que ela se tornará uma idosa bem crica, que terei vontade de pendurar num prego de vez em quando. Mas, de jeito maneira, posso apagar da minha memória o que ela já fez e faz por mim. Pelos meus irmãos, por todas as netas, por todos aqueles que procuram uma palavra de consolo e, principalmente, pelo o que ela faz pela mãe dela.

Se existe alguém que sabe ser mãe, mas também, sabe ser FILHA, este alguém é a Dona Cida ♥ Que um dia, eu seja um pouquinho disso também. Amém!

Dormir na barraca no quintal é o que tem nas férias! Faltou a Catarina ♥

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