quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Disputa materna

Ela é cruel, impiedosa. Chega ser pior que a disputa masculina, a disputa por territórios, a disputa entre chefes de nações. É uma disputa sem fim. Vale todas as armas (no caso, palavras), para derrubar o adversário. É impressionante como uma mãe quer demonstrar ser melhor que a outra. Em tudo!

A disputa começa ao engravidar. Como nas novelas mulher grávida desmaia, tem tontura, enjoo só de ouvir em falar de comida. A mulher fora da telinha também quer ter. Aí a gente vem pra realidade e descobre que enjoo é foda pra caramba. Que é horrível você já não ter mais nada no estômago e mesmo assim, está vomitando. A ponto de tomar seis Dramim por dia e o diacho do enjoo não passa. Aí vem a outra grávida. Aquela que não teve enjoo nenhum. Aquela que comia de tudo e não sentia nem um tiquinho de nada. E esfrega isso na cara da mãe enjoada, como uma vitória!

O tamanho da barriga também é uma boa disputa. “Nossa! Você está com a barriga deste tamanico com cinco meses?” ou “A minha já apareceu logo no 2.º mês. Todo mundo via que eu estava grávida!”, como se o tamanho da pessoa, o tamanho do companheiro, a estrutura física da pessoa, nada disso, fosse levado em consideração...

Tem a grávida, que quer ser mais grávida, andando que nem pato. Tem a outra que quer dançar na cara da sociedade de salto. Tem a que se cuida, usa maquiagem, mesmo depois de uma noite demoníaca, sem dormir por conta das dores nas costas e a ida constante ao banheiro, mas que afirma veemente, que está ótima para a outra grávida, que prefere verbalizar o que não está legal na gestação.

Enfim... isso não para por aí. Temos a questão do nascimento da criança, discussão aqui já tida, em relação ao parto X cesárea. Em um país cheio de médicos cesaristas, o parto normal se tornou tabu. Pior, umas mães desdenham das outras. Pior ainda, independente do modo como seu filho nasceu, vejo que a vontade de divulgar e lutar pelo PN se tornou algo louco, tanto dos cesaristas – que não querem ter trabalho, como se uma cesárea não fosse uma cirurgia e não desse trabalho – como das mulheres que conseguem o seu PN e desdenham das outras mulheres que foram pra faca.

Aí depois que nasce tem a disputa sobre o desenvolvimento da criança. “Meu filho consegue chupar o dedo do pé já!”, “Ai... você precisa ver! Com uma semana já reconhece a voz do pai”, “Nossa! Sua filha ainda não está virando sozinha? A minha virou sozinha com uma semana!” e por aí vai...

E aí, a mãe que não leu, não se preparou para a maternidade e as que se prepararam e leram também, piram. Tipo, eu. “Será que não estou estimulando minha filha direito?”, “será que estou fazendo algo errado?”

O bom mesmo é quando você encontra outras piradas como você. Daí você consegue trocar figurinhas e ver que a sua piração – muitas vezes – é sem fundamento. Cada ser é único, certo? É isso que a gente tenta todo dia deixar claro para todo mundo, não é mesmo? então, por que cargas d’águas, com um bebê iria ser diferente?

Faz uns 10 dias que a Angelina vem ensaiando andar. Comentei isso com uma pessoa próxima que também tem filha pequena. “Nossa! Mas só agora? A minha andou com tanto tempo”. Bacana... aí fui pra casa pensando e decidi abstrair... afinal, a Angelina vai andar, correr, comer sozinha, cutucar o nariz, deixar de usar fraldas, dançar um tango (se dançar!), quando ELA quiser!

Não quero acelerar nada... vamos viver cada fase de uma vez. Sacou?

PS.: As concorrências e comparações maternas não param nunca, tá?! Quando seu filho arranjar uma namorada, a do filho da vizinha, será mais bonita. Quando sua filha casar, o casamento da filha da prima da cunhada, vai ser muito mais bonito e caro. E por aí vai...

Angelina com o "TiNil" dandando no quintal <3